Fugindo da grave crise que atinge a Venezuela, Jesus Zacarias, 42 anos, tentou buscar uma vida melhor no Brasil e agora mora em Campo Grande. Mas nem tudo foram flores e ele relembra dos problemas enfrentados logo quando chegou por aqui.
Como milhares de venezuelanos estão fazendo diariamente, ele entrou pelo estado de Roraima. Na capital, Boa Vista, o venezuelano conta com detalhes as dificuldades que passou, tais como a fome e um lugar para se abrigar.
Professor de música em uma escola e em uma universidade da Venezuela, fugindo da crise, ele chegou ao Brasil sem ter nenhum emprego em vista. Jesus alega que queria trabalhar com qualquer serviço que poderia proporcionar uma vida melhor para, assim, conseguir trazer sua família para o Brasil.
“Levei comigo alguns instrumentos musicais, mas quando cheguei em Roraima, havia muitos venezuelanos e como não tinha o que comer, vendi alguns deles para comprar comida, me restando apenas um trompete. Sem ter um emprego, resolvi tocar na rua para ganhar algum dinheirinho e até em troca de comida. Certo dia, estava tocando em uma feira da cidade e um brasileiro chegou perguntando se poderia tentar tocar meu instrumento. Ele pegou de forma errada, meu trompete caiu e quebrou. Um amigo perguntou a esse homem se ele poderia reparar o dano causado, já que aquilo era, até o momento, o meu ganha pão. Para nossa surpresa, o rapaz se sentiu ofendido, tirou uma faca da cintura e nos ameaçou de morte. Após isso não tinha como arrumar um emprego e cheguei a passar fome”, lembra Jesus emocionado.
Algum tempo depois, anjos da ONG Fraternidade sem Fronteiras da Capital apareceram na vida do venezuelano e o convidaram para vir até Campo Grande. Sem muita perspectiva de vida, Jesus rapidamente topou.
“A ONG tem um projeto de uma orquestra de crianças carentes e eles me chamaram para dar aula a esses alunos. Cheguei aqui em Campo Grande e costumo dizer que encontrei outra família. Eles me ajudaram muito, consegui o emprego, um novo instrumento, uma casa para morar, trouxe minha esposa e meus dois filhos. Todos já estão trabalhando e estamos muito felizes”, conta.
Quando interrogado sobre o restante de seus familiares, ele diz que seus parentes ainda acreditam que a Venezuela vai melhorar e não desistem do país buscando uma vida melhor em outros lugares.
“Meus pais ainda moram lá e não pensam em sair, eles têm esperanças que as coisas vão melhorar por lá. Não queremos invadir o espaço de ninguém, mas não tinha mais como ficar no meu país, os alimentos estão muito caros, as pessoas podem trabalhar e não conseguem levar um frango que seja para sua família comer. É muito triste”, lamentou.