Há histórias que não dependem de uma data específica para serem contadas, mas acabam trazendo consigo um senso de entendimento maior quando as duas coisas se unem. Neste ano, o Dia dos Pais tem um significado diferente na vida de quem até tinha esquecido que há motivos para comemorar, como Sérgio Luiz, de 26 anos, pai e ‘mãe’ de Maria e Joel, de seis e sete anos.
Dois meses após serem despejados da comunidade Cidade de Deus, em Campo Grande, a família ainda não tem um lugar para chamar de casa, e segue dependendo da solidariedade de quem também já tem tão pouco para viver. Ainda assim, pai e filhos persistem unidos à procura de dias melhores.
Isso porque, conforme critérios da Emha (Agência Municipal de Habitação), homens solteiros não têm direito a fazer cadastro para conseguir uma nova moradia nos lotes para onde foram transferidos os então moradores da comunidade, mas exigiu que os mesmos desocupassem os barracos, em ação que 'extinguiu' a antiga favela no bairro Dom Antônio Barbosa, próximo ao aterro sanitário.
Os moradores da Cidade de Deus que conseguiram entrar no cadastro foram transferidos para os bairros Bom Retiro, Vespasiano Martins, Pedro Teruel e Canguru. Sérgio e seus filhos, contudo, permanecem sem endereço e sem resposta da assistência social do município, dormindo cada dia em um lugar.
Os poucos móveis que a família tinha no barraco que foi derrubado estão empilhados onde hoje funciona a ‘escolinha’ Filhos da Misericórdia, no Canguru, que também ficava na antiga favela e atende 57 crianças por meio de voluntários. Sem proteção adequada, os itens sofrem a degradação natural depois de dias pegando sol, chuva e poeira.
“É difícil, tenho que lutar, correr atrás. Se eu fosse sozinho na vida, dava um jeito de me virar, mas com as crianças não pode ser de qualquer jeito, eles merecem mais do que isso”, desabafa Sérgio. Com o desemprego e a pressão de resolver as coisas, ele desenvolveu um quadro de depressão, que tem tratado para não deixar a família sem ajuda.
Durante o dia, as crianças estudam na Escola Municipal Plínio Barbosa Martins e, quando chega a noite, juntam-se ao pai para dormir com a avó Maria Severiano, 70 anos, que não tem mais como comportar os três onde mora. Muitas vezes, eles acabam indo para a escolinha, onde Edileuza Luis, 37, é responsável.
“Tento desde o começo chamar atenção para o caso deles, fomos atrás da Defensoria, que nos dá prazos e nada é resolvido. É uma injustiça sem tamanho, só porque ele é separado e a mãe não está mais por perto, não dá pra entender. Derrubaram um barraco e a vida de uma família”, relata Edileuza.
Nos finais de semana, Maria e Joel brincam no meio da rua com outras crianças, se apegam nas coisas simples da infância e na confiança que têm no pai. De um lado para o outro, eles aguardam um olhar mais humano do poder público e por dias melhores.
A família aceita qualquer tipo de ajuda, que pode ser combinado pelo telefone de contato (67) 9 9322-0060.