O caso de tortura e homofobia contra um cabeleireiro de 27 anos, que chocou a cidade de Três Lagoas, no último dia 10, também causou comoção em Campo Grande. Para o vereador Valdir Gomes (PP), o poder público é omisso e co-responsável pela violência contra o público gay. Leis mais severas aos agressores e coordenadorias específicas estão entre as soluções para reduzir crimes como esse.
''Não há lugares específicos para acolher esse público que sofre violência desse tipo, oferecendo advogado, acolhendo as famílias, como tem a delegacia das mulheres, como tem para idosos'', explicou o vereador. Ele destaca que a sociedade não pode 'fechar os olhos' para o preconceito, pois ele existe.
Gomes relatou que a discriminação se faz presente até mesmo dentro dos órgãos públicos. ''Você vai lá fazer um boletim de ocorrência de homofobia e às vezes a autoridade não chama nem a outra parte. Eles dizem: Ah, deixa isso, isso é coisa de viado'', relatou. O vereador, que está no segundo mandato, é homossexual e conta que já sofreu com preconceitos por sua orientação. ''Só que comigo não tem essa, não deixo barato, dou carteirada mesmo''.
(Valdir diz que homofobia está também no poder público - Foto: Geovanni Gomes)
O vereador destaca que em muitos casos, mesmo quando a vítima de homofobia tem dinheiro, a sociedade não dá o mesmo valor como faz com um heterossexual. ''Pela frente todo mundo recebe os homossexuais muito bem, mas por trás fazem discriminação'', denuncia. Ele ainda citou o caso do empresário Adriano Correia, assassinado por um policial rodoviário federal na madrugada do dia 31 de dezembro do ano passado. Segundo Valdir, muitas pessoas comentaram nas redes sociais tentando até justificar o crime pelo fato de Adriano ter saído de uma boate gay, ter bebido e feito sexo com outros homens. ''Meu Deus, o que isso tem a ver? É por isso que ele merece ser assassinado'', questionou o parlamentar.
No dia dez de janeiro, o cabeleireiro Caio Henrique Cruz Lopes, foi torturado e agredido por dois homens depois de sair do banheiro da Praça Ramez Tebet, em Três Lagoas. A vítima estava sozinha e após pedir de volta o isqueiro que havia emprestado para um deles, começou a ser agredido com chutes, socos, capacete, pedra e até um pedaço de pau. Na hora da agressão, Caio ouviu os suspeitos dizerem: "hoje você se ferrou, porque a gente veio aqui para matar "veado". Já morreu essa bicha?. Não vai fazer falta no mundo''.
Valdir Gomes reconhece que existem lugares que acolhem e orientam vítimas de homofobia em Campo Grande, ''mas são tímidos e acanhados. A gente precisa dar a cara em cima disso'', complementou o pepista. Outro fato destacado por ele é a exclusão social dos homossexuais mais pobres, deixando-os à margem da sociedade e propensos a cometer crimes e se prostituir. ''A sociedade não acolhe, não dá emprego, aí eles, principalmente os travestis se revoltam e cometem atos para chamara a atenção'', justificou.