Em depoimento como testemunha de acusação no julgamento da morte de Sophia de Jesus Ocampo, o médico legista Fabrício Sampaio Moraes descreveu em detalhes os traumas sofridos pela criança e respondeu a questionamentos técnicos sobre os sinais de violência e o intervalo estimado da morte.
Ao júri, o médico confirmou que a causa da morte de Sophia foi um trauma raquimedular de grande intensidade, indicando uma força significativa aplicada à coluna cervical. Segundo ele, o pescoço da menina girava "quase 360 graus" devido ao rompimento dos ligamentos da coluna, resultado de um golpe extremamente violento. Este nível de lesão, conforme explicado, é raro e indicativo de agressão deliberada.
Ao ser perguntado se um "cascudo" poderia ter causado a lesão, o legista afirmou que isso seria possível, mas que a força necessária seria muito maior do que um golpe usual dessa natureza. Essa declaração reforçou a tese da acusação sobre a brutalidade da agressão.
Horário da morte
Durante o depoimento, surgiram discussões sobre a hora provável da morte. O médico reiterou que o intervalo estimado foi de até 24 horas antes do exame necroscópico, mas ressaltou que os sinais cadavéricos, como manchas arroxeadas (livores) e coloração abdominal esverdeada, não permitem uma precisão absoluta. Ele também destacou que fatores como idade, temperatura corporal e condições de saúde da vítima podem alterar o cronograma dos fenômenos pós-morte.
A acusação apresentou um áudio de Christian Camposano, padrasto da menina, gravado às 12h51 do dia 26 de janeiro de 2023, no qual a voz de Sophia é ouvida dizendo: "Mãe, 'tá' doendo". O conteúdo reforçou a hipótese de que a morte não ocorreu às 9h30 da manhã, como sugerido por interpretações preliminares.
A defesa de Stephanie de Jesus da Silva tentou desqualificar as informações do laudo necroscópico e mencionou a possibilidade de alterações nos sinais cadavéricos devido a uma infecção identificada durante o exame no corpo de Sophia, mas não conseguiu invalidar os parâmetros estabelecidos no laudo.
Debate sobre literatura médica
Em outro ponto de discussão, a defesa citou uma literatura médica que divergia dos parâmetros utilizados pelo legista. Fabrício explicou que as variáveis descritas não são exatas e podem variar de acordo com idade, condição física e clima, reforçando a necessidade de considerar um intervalo amplo para a estimativa do horário da morte. Ele também defendeu o uso da literatura de Franz, amplamente adotada em análises de medicina legal no Brasil.
O julgamento continuará com a apresentação de mais testemunhas e a oitiva dos réus. A fase de debates entre defesa e acusação está prevista para amanhã, 5 de dezembro, e poderá se estender até o período noturno, quando ocorrerá a votação do júri popular.
A decisão final determinará se Stephanie e Christian serão condenados pelos crimes de abuso sexual, tortura e homicídio qualificado, cujas penas podem somar décadas de prisão.