Desde a abertura de parte do comércio e rede bancária no centro de Campo Grande, o que mais se vê nas ruas são idosos e familiares. Eles enfrentam filas enormes para receber dinheiro e pagar contas, mesmo que atualmente não exista a necessidade de sair de casa para tal fim.
Sem medo de contágio pelo novo coronavírus, a maioria que faz parte do grupo de risco enfrenta o perigo. A equipe de reportagem do TopMídiaNews entrevistou três famílias e questionou sobre os cuidados e necessidade de ir ao centro. As justificativas são praticamente as mesmas.
O aposentado Mario Berto da Silva, 73 anos, foi à Santa Casa fazer uma biopsia junto à esposa e a filha e aproveitou para passar no centro, ir ao banco e sacar a aposentadoria para pagar contas.
A filha do idoso, a copeira Margareth da Silva, de 52 anos, disse que a família está tomando todos os cuidados e eles foram levados de carro pelo filho dela. Os três estavam com máscaras e luvas, e ela afirmou que o trio faz uso de álcool em gel o tempo todo. O produto é carregado na bolsa.
(Margareth e o pai Mario. Foto: Willian Leite)
Questionados sobre os motivos de não pagar as contas através de aplicativos, a copeira disse que a mãe de 85 anos não aceita fazer uso de cartões ou tecnologia via celular.
“Pra ela, o dinheiro tem que estar na mão para pagar. Ela prefere ficar na fila, é uma questão pessoal”, disse.
Máscara improvisada
A segunda idosa a ser entrevistada foi a aposentada Neusa do Santos, de 65 anos. Ela, que enfrentou grande fila, afirmou que foi pagar um carnê em uma loja. Indagada sobre os motivos de não pedir a outro parente mais novo ou usar recursos tecnológicos, ela justificou como os outros.
(Neusa improvisou a máscara. Foto: Willian Leite)
“Eu não gosto de pedir nada para ninguém, prefiro vir sozinha e pagar. Mas, já estou indo embora pra casa”.
Neusa fez uma máscara cortando uma camiseta velha. Sobre o improviso, ela explicou que a ida à loja seria rápida e não teria problema.
Fé e Política
A terceira e última família a ser entrevista foi um pouco mais arisca com a reportagem e respondeu com certa hostilidade.
João Batista Nunes foi receber um benefício do INSS e aproveitou para levar a família toda para o centro. Ele estava com a mulher, filho e nora, todos sem máscaras, luvas ou álcool em gel.
“Eu acredito em Deus”, disse João. Já o filho dele, que não quis se identificar, não gostou de ser questionado e afirmou que não acredita na doença.
“Isso é tudo politicagem, eu não acredito. Você, por um acaso, é fiscal?”, disse.
(João Batista Nunes e a esposa não acreditam no vírus. Foto: Willian Leite)