Não é bem como todo mundo espera, passar o dia 25 de dezembro em um hospital, já que a tradição sempre envolve família reunida, meia farta, decoração e troca de presentes e abraços. Na vida real e fora do clichê há muitas histórias diferentes, em cenários como o do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, um dos maiores de Campo Grande.
Cada um tem um motivo bem diferente para estar ali. Há quem chegou na véspera de Natal e está saindo, há quem esteja há meses, há quem trabalhe no local, há quem acabou de chegar ao mundo, há quem esteja se despedindo dele.
Entre os pacientes, está a bebê Luisa, que foi o grande presente de Natal de sua mãe Rebeka Batista Pereira, chegando 18 dias antes do previsto. Ela conta que participou da ceia com a família normalmente e acordou assustada, às 4h30 da madrugada, com as inesperadas contrações. Ali, soube que era o momento.
Às 10h43 desta terça-feira, Luisa chegava para ser acolhida em seus braços. “Todo mundo ficou emocionado, pai, avós, agora ela faz aniversário junto com Jesus Cristo. A gente disse que é uma benção, uma alegria só, veio calminha e nesse calor de dezembro! Agora deixo de ser filha para ser mãe dessa preciosa”, diz.
A ala pediátrica também esteve cheia durante essa madrugada, mas as paredes com figuras coloridas, árvore de Natal e presépio parecem tornar esse período fora de casa um pouco mais fácil. Kaleb, de um ano e sete meses, é uma das crianças que há semanas vive por ali para recuperar sua saúde, vindo de Coxim, a 266 km da Capital.
Diagnosticado com leishmaniose, o pequeno está há 24 dias no hospital ao lado da mãe, Rosana Barbosa Ferreira. O Natal desde ano teve a família reduzida, mas presentes e comidinhas especiais não faltaram.
“Tivemos uma pequena ceia com as enfermeiras, o pessoal trouxe tortinhas, foi bem legal. Ele ganhou bola, violãozinho, carrinho. Mas, pra mim, o melhor foi saber que ele vai ter alta já amanhã”, conta a mãe, com muita saudade de casa e a expectativa de uma grande ceia de ano novo.
Também há algumas semanas no hospital, Davi não perde o sorriso. O garoto de três anos trata uma infecção renal e estava há um tempo sem ver o pai, André Afonso. A família mora em Dourados, a 221 km de Campo Grande, e só a mãe podia ficar todos os dias em sua companhia.
“Hoje eu vim e os irmãos dele também. Desde que ele foi internado, no dia 13 de dezembro, eles não viam a mãe. Aí como é Natal e ela estava sentindo muita falta, eles vieram, mas não podem subir para ver o irmão”, lamenta o pai. Davi ainda não sabe quando deve sair do hospital, mas leva os dias com alegria que contagia a ala inteira.
Há 19 anos, o enfermeiro Edmilson Barboza sabe bem como é passar as datas em um ambiente com tantas situações por vezes tristes, e sem usufruir do descanso do feriado como a maioria das profissões. “As equipes se revezam pra comemorar cada um um pouquinho pelo menos, dessa vez adiantei a ceia e dormi cedo para estar no plantão cedo. Várias datas já passei trabalhando, formaturas dos filhos, aniversários, mas valeu a pena, sempre vale a pena”, diz.
Mais um Natal se passa e os corredores e salas do hospital continuam cheios, em fluxo de idas e vindas que continua hoje, amanhã, e pelo próximo ano. O desejo comum de quem ali se repetia em cada fala: saúde, paz e esperança.