Os indígenas da aldeia urbana Marçal de Souza, localizada perto do Bairro Tiradentes, em Campo Grande relatam que depois de vários anos sem pagarem IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), passaram a receber o carnê em 2019.
A comunidade destaca que uma aldeia não deve pagar esse tipo de imposto, mas entende o município em querer passar a fazer a cobrança por ser uma aldeia localizada na cidade. Ainda assim, adianta que se passar a pagar, também vai querer ter todos os direitos de ‘cidadão comum’.
“Nunca pagamos, pois querendo ou não, aqui é uma aldeia, mesmo sendo localizada na cidade. Tudo bem se a prefeitura quiser que a gente pague, mas o problema é que vamos pagar todos os impostos como qualquer outra pessoa e não temos os mesmos direitos’’, disse uma das representantes da comunidade, Mailde Soares Pereira, de 61 anos.
Conforme os moradores da aldeia, quem mora na Marçal de Souza só pode vender os imóveis para outro índio e não para qualquer pessoa. “Pagamos água, luz, se a gente constrói uma varanda temos que pagar para a prefeitura e agora vamos começar a pagar o IPTU. Ou seja, pagamos tudo igual qualquer pessoa que mora em Campo Grande, mas na hora que queremos escolher nosso destino não conseguimos? Está errado isso”, desabafou.
A comunidade também adianta que se acaso passarem a pagar os impostos, também querem que o local deixe de ser considerado ‘aldeia’.
“Se a gente passar a fazer tudo igual as outras pessoas vamos querer que deixem de chamarem a região de aldeia, pois não vai ser já que aldeia não paga IPTU. Quando os turistas querem nos visitar falam com orgulho que aqui é um lugar que só mora índio, mas não querem oferecer nossos direitos. Tudo bem, a gente pode pagar, mas também queremos poder fazer o que quisermos com as nossas casas. Se um dia a gente decidir querer vender para qualquer pessoa, deveríamos conseguir”, disse o morador Salvador Antônio, de 64 anos.
A equipe de reportagem do TopMídiaNews tentou entrar em contato com a Prefeitura de Campo Grande, para saber uma posição do município sobre a nova cobrança, mas até o fechamento desta matéria não obteve respostas.