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Campo Grande

26/02/2017 07:00

Família de adolescente torturado em lava jato clama por Justiça

Wesner da Silva, 17 anos, morreu no último dia 14 e suspeitos respondem em liberdade

“Não é porque somos humildes que não merecemos Justiça”. A declaração é da dona de casa Marisilva Moreira da Silva, 44 anos, mãe do adolescente torturado com uma mangueira de ar em um lava jato de Campo Grande, mas reflete o desespero de milhares de famílias que perdem entes queridos em situações de violência.

Wesner da Silva, 17 anos, morreu no último dia 14, após ficar 11 dias internado na Santa Casa. O patrão dele, Thiago Giovanni Demarco Sena, 26 anos, e o colega de trabalho Willian Larrea, 30 anos, colocaram uma mangueira em direção ao ânus do rapaz, o que acabou causando lesões graves na vítima. Ele teve parte do intestino grosso retirado, apresentou breve melhora, mas não resistiu aos procedimentos e faleceu.

As informações sobre o crime ainda são um pouco confusas, sendo que os autores tratam como uma ‘brincadeira’ que deu errado. O que difere, e muito da versão da vítima. Segundo familiares, ele contou que pediu para os autores pararem por diversas vezes, mas a violência só acabou quando ele chegou ao extremo, começando a defecar e vomitar.

Na memória dos amigos e parentes, ficam as lembranças do Wesner sonhador e corajoso. Segundo a mãe, ele lutou pela vida e, sempre que podia, tentava disfarçar a dor que sentia para não magoar o coração materno. Trabalhando há três meses no lava-jato, ele estava no primeiro emprego e tinha planos de comprar um carro e ajudar com as despesas em casa.

“Meu filho tinha sonhos e queria me ajudar e ajudar o pai. O 'bichinho' acordava cedo para trabalhar no lava-jato onde era seu primeiro emprego, mas queria tirar a habilitação e servir ao quartel para ir subindo de cargo e dar uma vida confortável para nós. Me lembro dele dizendo que um dia eu iria poder comprar tudo que sempre sonhei, pois ele ia me dar", lamenta a mãe.

O sentimento de perda é irreversível, a vontade de justiça é sufocante e a revolta inevitável. Nesta semana, o juiz Carlos Alberto Garcete de Oliveira, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, negou o pedido de prisão preventiva dos suspeitos. Conforme o magistrado, a autoridade policial ''não trouxe uma fundamentação quanto a concreta necessidade da prisão preventiva dos envolvidos''.

A sentença é resultado de uma investigação truncada, que foi tomando rumos inesperados a cada nova informação. No início, o delegado-titular da DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), Paulo Sérgio Lauretto, chegou a declarar que não indiciaria os dois autores por tentativa de homicídio, já que eles estariam colaborando com as investigações e permaneceriam em Campo Grande.

“Embora a pena para o crime de lesão corporal dolosa grave seja de cinco anos e seja possível pedir prisão por isso, existem outros fatores que precisam ser considerados, como o fato deles não estarem atrapalhando investigação, terem prestado socorro à vítima e prestado depoimento de forma espontânea, devendo permanecer na cidade também”, disse à época.

O estado de saúde de Wesner se agravou, ele não resistiu aos ferimentos e morreu, o que gerou mais impasses na esfera judicial. Segundo o TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), houve um conflito de competências acerca do caso, já que não se sabia se o crime seria tratado como lesão corporal de natureza grave ou homicídio por dolo eventual.

Se for considerado homicídio por dolo eventual, o caso fica na 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande. Já se houver o entendimento de lesão corporal de natureza grave, a apuração será da 7ª Vara Criminal Residual de Campo Grande, juízo este que recebeu primeiramente o caso, já que o Ministério Público Estadual entendeu, em um primeiro momento, que se tratava de crime de lesão corporal.

Localizado na Avenida Interlagos, na Vila Morumbi, o lava-jato foi incendiado, em um ato desesperado de ‘justiça com as próprias mãos’. O caso agora segue judicializado e pode demorar anos até ser concluído. Para a família que ficou, resta a esperança de ver os responsáveis punidos.

“Enquanto eu não ver esses dois atrás das grades, não vou sossegar. Eles conseguiram atingir o meu cristal. Meu filho era o meu cristal e estou me mantendo forte para que a justiça seja feita, não apenas para a nossa família, mas para todas as famílias humildes. Eu como mãe, agarrei a causa e vou até o fim”, completa a mãe Marisilva.

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