A longa permanência de Francisco Cezário à frente da Federação de Futebol do MS pode estar relacionada aos bônus pagos pela Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. O dirigente, que acumula oito mandatos, viu o ''salário'' mais que dobrar – de R$ 20 mil para R$ 50 mil em 2021.
A apuração veio de diversos jornais de âmbito nacional, entre eles o UOL. O jornal apurou que, entre janeiro e dezembro de 2021, cartolas, que antes recebiam até R$ 20 mil, passaram a faturar R$ 50 mil no segundo semestre daquele ano.
''Os 27 presidentes de federações estaduais recebem os repasses da CBF, apelidados de 'mensalinho' pelos mandatários. Outro incremento veio nos valores enviados para cada entidade, que subiu quase 20%, indo de R$ 85 mil para R$ 100 mil no segundo semestre'', anotou o jornal conforme coluna publicada em março de 2022.
O detalhe é que os beneficiários do aumento de bônus e salários são os que ajudam a escolher o presidente nacional da Confederação.
Gaeco cumpriu mandados de prisão e buscas, entre elas na FFMS (Foto: Gaeco-MS)
Resposta
A CBF respondeu dessa forma aos questionamentos do site:
"Todo e qualquer repasse feito pela CBF tem previsão e vinculação estritamente estatutária. Os repasses de recursos da CBF às Federações, por meio do Programa de Apoio às Federações (PAF), estão integralmente amparados na missão estatutária da entidade, conforme definido no Capítulo II, Artigo 12, itens 9 e 28 e no Capítulo X, Artigo 137, itens 9 e 14, conforme segue: Capítulo II Art. 12 - A CBF tem como objeto: IX - administrar, fomentar, difundir, incentivar, aperfeiçoar e fiscalizar a prática formal de futebol não profissional e profissional, em todo o território nacional. XXVIII - colaborar para o funcionamento e desenvolvimento das Federações filiadas e entidades de prática do futebol, proporcionando-lhes, quando for o caso, assistência técnica e financeira.
Capítulo X Art. 137 - Constituem, entre outras, despesas da CBF: IX - remuneração, pró-labore, honorários ou verbas de representação de integrantes dos Poderes. XIV - gastos para o fomento do futebol pelas Federações filiadas e pelas entidades de prática, proporcionando-lhes, se for o caso, assistência técnica e financeira."
Cartão Vermelho
Operação Cartão Vermelho, deflagrada pelo Gaeco, na manhã desta terça-feira (21), constatou que o presidente da Federação de Futebol do MS Francisco Cezário e demais suspeitos desviaram cerca de R$ 6 milhões, seja do Governo do MS e da CBF.
Sete mandados de prisão e outros de busca e apreensão são cumpridos em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. Segundo o MPE detalhou, os integrantes da quadrilha faziam saques frequentes nas contas da Federação – em valores abaixo de R$ 5 mil a fim de não chamar atenção dos órgãos de controle. O valor era dividido entre os comparsas.
Nessa modalidade, diz o Gaeco os suspeitos fizeram mais de 1.200 saques, que renderam R$ 3 milhões.
Hotéis
Ainda conforme divulgado, a quadrilha da FFMS também tinha esquema de desvio de diárias de hotéis pagos pelo Governo do MS em jogos do Campeonato Estadual. O modus operandi, diz a investigação, se estendia a outros estabelecimentos, sendo que os membros recebiam de volta parte do dinheiro de serviços e produtos contratados pela FFMS.
Equipes da PM deram apoio operacional ao GAECO. A operação contou também com a participação de representantes da Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas dos Advogados de Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil.
''Nessa fase qualquer investigação é sempre unilateral; logo ela será submetida ao necessário contraditório; devemos aguardar os esclarecimentos, que serão prestados, oportunamente'', disseram os advogados do dirigente, André Borges e Julicézar Barbosa.