Há três anos com hérnia e a espera da cirurgia pelo SUS, a dona de casa Lucélia de Jesus Luciano da Silva, de 41 anos, precisou entrar na justiça para garantir um direito básico: o direito à saúde.
Moradora de Campo Grande, Lucélia possui hérnia abdominal desde 2020. Com dois filhos pequenos para criar, ela conta que são quatro anos de peregrinação e negação do SUS (Sistema Único de Saúde) em realizar a cirurgia de emergência.
Assim que descobriu a doença, Lucélia começou a fazer acompanhamento no Hospital São Julião, onde descobriu que não podia operar por estar acima do peso.
"Me disseram que lá não tem CTI (Centro de Terapia Intensiva) e não poderiam me dar suporte, então lançaram meu caso no Sisreg (Sistema de Regulação) e desde então rodei hospitais e nunca consegui a cirurgia", conta.
Com o passar do tempo, a hérnia foi agravando e Lucélia precisou ir várias vezes aos hospitais da cidade. Em uma das vezes, a paciente passou mal e vomitou mais de 40 vezes em dois dias no HU (Hospital Universitário), quando indicaram a cirurgia bariátrica.
"Eu não precisava daquilo naquele momento, eu precisava resolver o problema da hérnia, sai dali e fui para o Hospital Regional", lembra.
Entre tantas idas e vindas, foi em junho deste ano que as dores pioraram e sem conseguir trabalhar, Lucélia perdeu as condições de andar e está na cadeira de rodas.
Com o marido aposentado e fazendo bicos para ajudar nas despesas, a família não tem condições de arcar com dinheiro para cirurgia no particular e decidiram fazer uma vaquinha online.
"Foi a forma que achei de conseguir operar, tenho dois filhos, um de quatro e outro de sete anos, não consigo cuidar mais deles sozinha, preciso da ajuda da minha mãe, meu caso é grave, o médico afirmou que já são mais de duas hérnias e não consigo a cirurgia", chora.
Segundo a paciente, ela já perdeu 15 quilos desde janeiro e vai passar por novos exames. Mesmo assim foi informada que a cirurgia só será realizada quando a hérnia estrangular.
"Por conta dela, já tive problema emocional, estou tomando remédios fortes para aguentar as dores e agora acusou problema no figado, não sei por mais quanto tempo vou aguentar", desabafa.
Procurada pelo TopMídiaNews, em agosto a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) chegou a informar que a paciente encontrava-se na fila de espera, aguardando vaga no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) para a realização do procedimento. Em nota, informaram que estavam em contato com o hospital para acelerar o processo, no entanto, cinco meses se passaram e a cirurgia não foi realizada.
Desesperada e sem saber mais o que fazer, em agosto, Lucélia entrou com um processo na Justiça para garantir judicialmente a realização da cirurgia. Após três meses, a dona de casa conseguiu uma liminar determinando a liberação da cirurgia pelo município.
A decisão determinou o prazo de 90 dias para que realizassem a cirurgia, conforme prescrição médica, assim como todas as consultas, exames e preparativos pré-operatórios. No entanto, com o prazo próximo a acabar, a liminar ainda não foi cumprida.
Lucélia agora aguarda alguma posição que possa aliviar seu sofrimento. "O prazo está acabando e continuo aguardando. O pior é que continuo com muita dor, tomando medicações fortes, que atacam o meu figado. Estou com hepatite crônica, sem conseguir trabalhar e sem conseguir cuidar dos meus filhos", desabafa.