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Campo Grande

22/08/2016 13:09

Casas ficam só na promessa meses após desocupação de favela e chuva é calvário

Última ventania deixou dezenas de moradores desabrigados, alguns ficaram feridos

Mesmo após meses da desocupação da maior favela de Campo Grande, a Cidade de Deus, moradores reclamam que as casas prometidas pelo prefeito da Capital Alcides Bernal (PP), ainda não foram construídas. Na época das mudanças, o chefe do Executivo prometeu a conclusão dos serviços em 90 dias, promessa que ainda não foi concretizada.

Enquanto o sonho da casa própria não vira realidade, a população sofre com o medo das chuvas. Inclusive, a última ventania que atingiu a cidade no último sábado (20), deixou dezenas de famílias desabrigadas, principalmente no Bom Retiro, um dos lugares onde os ex-moradores da Cidade de Deus foram transferidos.

Praticamente todos os barracos do Bom Retiro foram atingidos, adultos e crianças ficaram ao relento e algumas pessoas ficaram feridas. Como é o caso do morador que se identificou apenas como Samuel, ele destaca que machucou as pernas e a cabeça com as telhas que caíram dentro do barraco.

O aposentado Carlos de Souza, 65, relatou que quando percebeu que o seu barraco estava destelhando, colocou um capacete de motocicleta temendo que algo pior pudesse acontecer.

"As telhas começaram a voar, tinha um capacete de moto, o coloquei na minha cabeça e comecei a rezar com medo de morrer. Foi algo horrível, pessoas com idade avançada e crianças desabrigadas sem saber o que fazer da vida", destacou o idoso.

Izadora Gonçalves, de 58 anos, também é moradora do Bom Retiro e disse que perdeu todos os eletrodomésticos que tinha. Nesta manhã de segunda-feira (22), a mulher colocou sua televisão no sol, na esperança que o objeto volte a funcionar.

"Quando o vento começou, percebi que o barraco começou a mexer, de repente vi as telhas desaparecendo e sem ter para onde fugir, fiquei aqui dentro me molhando e vendo as minhas coisas estragarem", lamenta a mulher.

Em outro bairro, mais especificamente no Canguru, onde parte das famílias também foi transferida, o número de barracos destruídos pela ventania foi menor, mas diversos moradores também passaram pelo mesmo drama.

Diuliene Dultra, 40, e Teodoro Granci, 62, moram no local há cerca de quatro meses e ficaram apavorados com a força do vento. Sem ter a casa própria prometida, o casal reclama que está trabalhando para pagar as contas, inclusive deixando de se alimentar.

"Aqui pagamos água, luz e precisamos comer. Quando nos colocaram aqui, falaram que nossas casas ficariam prontas em no máximo 90 dias, o prazo já quase dobrou e até agora nada, nos dizem que estão sem material. Não reclamamos da gente pagar as contas, mas sim da gente cumprir com a nossa palavra e eles não cumprirem com as deles", destacou.

O idoso Eufenio Nunes, de 72 anos, mora sozinho em um barraco do local e destacou o medo. O lugar onde mora não foi afetado, mas os dos vizinhos foram. "Parecia cena de filme, uma coisa terrível", disse.

Na manhã de hoje, a Defesa Civil estava nos pontos atingidos entregando lonas e pregos para os moradores dos barracos atingidos. Problema que pode até se resolver por pouco tempo, até quem sabe uma próxima ventania. Porém, algumas casas que segundo o prefeito ficariam prontas em até 90 dias, nem do alicerce saíram. 

Cidade de Deus

A desocupação da Cidade de Deus começou no dia 7 de março deste ano. Os moradores seguiram para quatro pontos da cidade. Além do Jardim Canguru e no Bom retiro, também foram transferidos para o Vespasiano Martins e no Dom Antônio.

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