'Um verdadeiro depósito de lixo': Essa é a frase mais utilizada pelos moradores da região do bairro Santa Emília, que convivem diariamente com entulhos e objetos velhos descartados pela população campo-grandense. O relato é o mesmo desde os antigos aos novos moradores, que reclamam do desrespeito e acreditam que foram esquecidos pelo poder público.
O carpinteiro João Carvalho, 56 anos, que reside na rua Capitão Mário Pereita, destaca que presencia diariamente o descarte de entulhos na Avenida Wilson Paes de Barros, que liga o bairro ao Nova Campo Grande. "Essa avenida, nem sei se seria correto chamar de avenida, porque na verdade é um depósito de lixo. Às vezes as pessoas não conseguem passar por ela. Tem sofá velho, tábuas, resto de construção, pneus, tudo quanto é tipo de coisa você encontra nessa avenida".
João afirma ainda que dois corpos já foram desovados na avenida, já que não existe iluminação pública nos postes de energia. "Não tem energia em nenhum dos postes, nem tem a entrada de lâmpada, dois corpos já foram jogados ali, veio polícia e tudo. Como a prefeitura deixou a região esquecida, quem passa por ali é que faz denúncia quando encontra corpos no meio dos entulhos. Ninguém nem se atreve a passar por ela à noite, é escura e muito perigosa".
Em dois anos morando na região, João demonstra total vontade de deixar o bairro e relembra que tem uma criança de dois meses na casa, que passou mal quando algumas pessoas colocaram fogo nos entulhos, já que uma fumaça preta tomou conta da rua com a queimação de pneus.
"Eu moro aqui há dois anos, nesse pouco tempo, eu tive problema porque temos uma criança de dois meses em casa, ela passou mal porque inalou a fumaça preta que subiu quando colocaram fogo no lixo. Têm muitos pneus por lá e subiu aquela fumaça preta, tivemos que correr com ela para o hospital", explica o morador.
Assim como João, Luzia Barbosa, 54 anos, que reside no Santa Emília há 30 anos, afirma que o acúmulo de lixo na última rua do bairro coloca em risco a saúde da população e a segurança. "A saúde está em risco porque tem tanta campanha contra a dengue e ali é um verdadeiro criadouro do mosquito. Corremos risco porque marginais ficam no local escondidos, esperando vítimas para assalto e até outros crimes. A nossa situação aqui é complicada, estamos esquecidos".
Dono de um comércio de bebidas na região, João Marques, 27 anos, diz que a prefeitura pede a colaboração da população para combater a dengue e o zika vírus, mas esquece de prestar serviços em locais distantes e, devido a isso, cresce cada vez mais o número de pessoas que adoecem por conta do mosquito Aedes aegypti.
"A situação aqui da nossa região é complicada, você vê tanta campanha, pedido da prefeitura para a população colaborar, mas a Avenida está esquecida, só acumula lixo cada vez mais. Esses dias encontraram um rapaz morto na Avenida, isso porque alguém passou e viu, porque se depender do poder público, fica complicado. Precisamos que a prefeitura limpe a avenida para conseguir ajudar a combater a dengue, o zika vírus e outras doenças", diz o empresário que mora há sete anos no bairro Santa Emília.