Neste domingo (26), quando se completou um mês da morte da pequena Sophia de Jesus Ocampo, de apenas dois anos, familiares e amigos dos pais se reuniram no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande, a fim de pedir justiça pela menina, brutalmente violentada e morta pelo padrasto e pela mãe.
Vestidos com camisetas pretas e com balões pretos, em sinal de luto, os manifestantes gritaram "Justiça por Sophia" e seguiram em caminhada pelos Altos da Avenida Afonso Pena e pararam em um dos semáforos, com uma faixa que tinha o Artigo 227, da Constituição Federal.
"É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão".
"É muito dificil, cada dia que passa a saudade aumenta, cai a ficha de que a nossa filha não vai estar mais conosco, vem aquele nó na garganta, o desespero, é muito difícil", afirmou Jean Carlos Ocampo, pai da menina.
Jean, visivelmente muito abalado pela morte da filha, comenta, ainda, que o objetivo da manifestação, além de pedir justiça por Sophia, é pedir medidas para que outras crianças não tenham o mesmo fim.
Que o nosso Brasil trabalhe com prevenção, é o que nós queremos, que trabalhe com prevenção, que não espere acontecer o que aconteceu com a Sophia para tomar uma providência, então esse é o nosso grito. A Sophia não pode mais falar, não pode mais pedir socorro"
Igor de Andrade Silva Trindade, marido de Jean e pai afetivo de Sophia fala sobre o que sente ao ver a mobilização dos familiares e amigos.
"Na verdade, a gente não queria nem estar aqui, essa é a realidade. A gente não queria que a nossa filha tivesse esse fim que ela teve, então o fato de ver tantas pessoas mobilizadas agora só nos encoraja a continuar nessa luta de justiça, não apenas por Sophia, mas também por outras crianças".
"O nosso luto, a gente está transformando numa luta, esses foram os piores 30 dias das nossas vidas. A gente viu outros casos de outras crianças, e esse é o nosso grito. Todo mundo que está aqui concorda conosco para que não aconteça isso com outras crianças. Que olhem para as crianças e, na dúvida, tirem do lar agressor para depois investigar se realmente está sofrendo agressão ou algo do tipo, não façam como fizeram conosco", desabafa.
A advogada Janice Andrade, assistente de acusação no caso, afirma que no momento, o caso segue em segredo de justiça e sem novidades.
"O Ministério Público pediu diligências e coletas de provas, já que estamos ainda na fase de coleta de provas, e estamos esperando os resultados das perícias, das diligências, nós também vamos fazer alguns requerimentos, mas não tem muita novidade."
Ela também comenta sobre a necessidade de não se deixar que o caso seja esquecido. "A gente não pode deixar que o caso seja esquecido. A gente sabe que agora a Sesau e o Conselho Tutelar estão agindo com mais rigor. Ontem mesmo eu fui informada que houve uma confusão porque uma mãe levou uma criança, que caiu de bicicleta, para atendimento, e chamaram o Conselho Tutelar, mas era realmente um caso de queda de bicicleta", conta, salientando que é notável a falta de preparo da equipe.
Janice salienta que, mais do que agir com rigor nos casos, é importante saber diferenciar quando um caso realmente esconde violência contra a criança e quando se trata apenas de casos genuínos de pequenos acidentes.
Andrade sugere, também, a criação de protocolos específicos para esses casos.
"A equipe médica tem que ter treinamento. Muitos hospitais em outros estados, como Rio de Janeiro e São Paulo tem protocolos específicos para isso. Muitos peritos forenses afirmam que as crianças apresentam certos sintomas e a gente dizia que a Sophia gabaritava esses sintomas no atendimento, que eram vômito, dor no estômago, dores em geral... tem que ter treinamento, criar um protocolo que funcione, treinar a equipe e colocar pessoas que estejam preparadas para lidar com as crianças. O que agente não pode ter são omissões e/ou ter confusões com chamada de polícia e acusações absurdas contra uma mãe, como esse caso de ontem."