Morte do candidato no concurso da Polícia Militar de MS, Arthur Matheus Martins Rosa, 25 anos, após passar mal durante o TAF (Teste de Aptidão Física), motivou proposta, em tramitação na Assembleia Legislativa, que visa proibir provas das 10h e 16h em MS. Especialista em educação física indica a necessidade de meses de preparação.

A situação veio a tona na semana passada depois da morte e mais ao menos três casos de desmaios durante as provas.

O deputado Pedro Kemp (PT) imediatamente apresentou projeto de lei 228/2023 onde pontuou que deve-se exigir apresentação de um atestado médico que comprove as condições físicas do candidato, além de horários em que o clima esteja saudável para essas pessoas.

“Saiu de Góiás um candidato para realizar um sonho, chegou para fazer a prova às 6h da manhã, pois foi informado que era por ordem de chegada, e fez a prova só às 13h, no horário mais quente do dia. Passou mal com o calor extremo, demorou a ser atendido, foi encaminhando para a Unidade de Pronto Atendimento [UPA], foi internado no hospital do pênfigo, entubado, e veio à óbito”, relatou o deputado.

O projeto segue sob análise das comissões para posterior discussão e votação em plenário.

Preparação

O especialista em educação física e preparador para TAF, Joni Guimarães, afirma que a preparação do candidato para realizar o TAF em concursos públicos primeiro deve ser guiada por um profissional da educação física para ter orientação correta do treino.

"Cada pessoa tem um tempo de adaptação e um tempo de resposta de treinos. Já passaram por mim alunos sedentários que iam realizar o TAF e com um mês e meio de treinamento conseguiram atingir todas as metas. Como também já tive alunos que eram pessoas de academia e que já faziam treinos, que não eram sedentárias, porém demoram 5 meses para conseguir realizar o que é pedido no edital", disse ele que enfatiza que não há um quantitativo de tempo ou período estabelecido à risca para o candidato.

Segundo ele, cada pessoa tem um organismo e reage diferente aos treinos, por isso a dica é quando a pessoa começar os estudos teóricos já deve iniciar os treinos.

Questionado se uma pessoa que não faz exercícios de alta intensidade tende a sofrer mais desgaste físico na hora da corrida, Guimarães ressalta que "não só as pessoas que não fazem atividade física, como também as melhores preparadas. Por isso, é essencial que o profissional que trabalha com a pessoa trazer o treinamento o mais próximo da realidade com simulados, testes em dias de calor e com umidade baixa."

O educador afirma que o risco sempre existe, e que pode ocorrer de no dia da prova, a pessoa ter algum desconforto a mais por conta de ansiedade, queda de pressão por conta do nervosismo, ou falta de boa noite de sono por conta da preocupação da prova.

Questionado se a falta de preparo e falta de hidratação, somada à falta de preparo, pode acarretar em desmaios e até morte, o educador indica que sim. "Exatamente isso, pode sim. Cada um responde de um jeito a preparação física. Pode levar meses ou até anos dependendo da pessoa. Para estar hidratado, o candidato deve tomar água durante todo o dia. Não adianta ficar o dia todo sem tomar e lá na prova tomar uma garrafinha de água, isso tem que ser constante."

"A área de preparação do TAF cresceu e vemos pessoas despreparadas fazendo isso e dando treinamento sem poder trabalhar com isso. Cada pessoa tem um condicionamento físico diferente e só um profissional de educação física pode passar com cuidado essa orientação, em cima de patologias. Se não for assim, a sua vida estará em risco".

Problemas diversos

A morte e os desmaios consecutivos de candidatos na semana passada durante a prova do TAF em Campo Grande para o concurso da PM e Corpo de Bombeiros expuseram problemas variados no processo seletivo, que estão sendo judicializados.

Segundo o advogado André Godoy, os erros começam na avaliação, passam por anotações incompletas sobre o quantitativo de exercícios realizados até fichas com rasuras. Além disso, a péssima condição climática, forte calor e baixa umidade do ar, não justifica a falta de água potável para os candidatos encherem suas garrafas e proibição de ir ao banheiro.

"A empresa foi contratada mediante processo de licitação. Todo o processo tem o responsável pelo contrato e o gestor desse contrato. Todos esses erros por parte da organizadora devem ser apurados por meio de um processo administrativo para se aplicar penalidades a empresa. Se de fato [ser comprovado], os problemas em que o contrato não foi executado de forma correta, deve-se abrir um processo administrativo, a empresa apresentar suas defesa e as suas respostas e o gestor do contrato verificar se aplica uma penalidade ao não", explica Godoy.

O advogado vê omissão do governo nos casos. "Mas, ao meu ver, já está até havendo uma omissão nessa questão do próprio Governo do Estado, já que essa empresa já vem falhando em todas as fases do concurso. Vem falhando desde a fase do psicotécnico e prejudicando os candidatos", disse Godoy. 

A morte de Arthur em uma das etapas do concurso revela a gama de problemas apontados por candidatos e colocam em evidência uma situação que vai muito além do simples azar.

Candidato morto

A tragédia de Arthur Matheus Martins Rosa também chama a atenção para a possibilidade de ações judiciais e pedidos de indenização por parte da família enlutada. Conforme Godoy, se ficar comprovado que a desidratação foi a causa da morte e que a falta de fornecimento de água contribuiu para o trágico desfecho, a responsabilidade do Estado pode ser questionada legalmente.

Dicas aos demais candidatos

Para os demais candidatos que se sentiram prejudicados pela série de problemas relatados, Godoy aconselha a organização e mobilização para entrar com recursos administrativos. Caso esses recursos não surtam efeito, buscar assistência jurídica competente se torna uma alternativa viável para retificar casos de inaptidão injusta ou inadequadamente avaliada.

"Acredito que nesse momento os candidatos devem ter tranquilidade. O cronograma do concurso e divulgação dos resultados está previsto para dia 31 de agosto. Então, os candidatos devem ter se preparar porque o prazo de recurso é de 2 dias. Eles devem procurar um profissional especialista na área e que seja competente, porque esse é o sonho do candidato que está indo por água abaixo. Então, esse candidato deve procurar ajuda para resolver o problema."