Motoristas do aplicativo Uber, em Campo Grande, gravaram a instrução de um agente de trânsito, na qual o fiscalizador aponta a necessidade dos profissionais criarem ou migrarem para uma empresa que os represente como profissionais de carona paga junto a prefeitura.

A orientação soou estranha para os condutores do aplicativo, que dizem que a sugestão dada durante a blitz educativa não foi pontual e, desde terça-feira (18), tem ocorrido com frequência.  

Paulo Leão, 34 anos, está na Uber há sete meses e acusa o poder público de pressionar os motoristas a mudar para o aplicativo K-rona Gold, único que, segundo ele, teria aceitado o decreto municipal sobre transporte de passageiros.  

Na gravação, um suposto agente de trânsito aborda um condutor da Uber, pede a documentação e começa a fazer orientação. ''Estamos fazendo um levantamento. O senhor trabalha com Uber? Só a título de informação, o senhor está cadastrado naquela empresa K-rona Gold? [...]'', questiona o fiscal.

As abordagens, segundo o denunciante, começaram na terça-feira (18), um dia após vencer o prazo para os aplicativos entregarem a documentação necessária, exigida no decreto municipal. Porém, somente o K-rona Gold, que começou a operar no dia 6 de abril, teria entregue os papéis exigidos pelo município e seria o único a concordar com o decreto da prefeitura.   

Após a conferência dos documentos, o agente inicia a instrução: ''o senhor tem um prazo de mais dois meses para 'tá' se cadastrando numa empresa...a única que se apresentou...é uma chamada K-rona Gold. Eu não sei qual que é a ideia na verdade que foi estabelecido, por exemplo, todo camarada que faz trabalho de Uber, que trabalha de aluguel teria que, tipo, como se fosse uma associação, criar uma ou duas empresas que você taria ligado para te representar no Uber, na Agetran'', informa o suposto agente.

Na sequência, o motorista do aplicativo questiona a medida, que inclusive não é prevista no decreto 13.157/2017, que regulamenta a atividade de carona paga em Campo Grande, e explica ao agente que, na verdade, o K-rona Gold é uma empresa similar e concorrente da Uber e que, portanto, não haveria possibilidade dele se inscrever nesse aplicativo como sugeriu o 'guarda'.  

O agente então explica que apenas está fazendo um levantamento para dar satisfações ao prefeito e que isso seria até para ''dar satisfações às empresas de táxi e para as empresas de ônibus que patrocinam por outro lado''.  

K-rona Gold

O diretor-regional do K-rona Gold, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Wagner Antônio Peres, disse ao TopMídiaNews que não  havia ouvido a gravação, mas que pelo que foi explicado, o agente de trânsito teria apenas 'orientado' o motorista a trocar de aplicativo, visto que a Uber deve ficar ilegal em breve, já que a empresa norte-americana não concorda com as novas exigências municipais e vai tentar derrubar o decreto de alguma maneira. 

''Ele pode ter dito: olha, se vocês não se cadastraram no K-rona, se cadastrem, procurem se cadastrar, porque o Uber vai ficar ilegal'', explicou.

Wagner rebate a sugestão do denunciante de que o K-rona Gold teria algum vínculo com o poder público e diz que a empresa entregou todos os documentos exigidos, mas discorda de alguns pontos no decreto do prefeito Marquinhos Trad (PSD), principalmente no que cobra 7% do quilômetro rodado pelo profissional.

''Poderiam cobrar 7% do valor da nossa tarifa, que é R$ 270,00 por mês e não da quilometragem rodada'', sugeriu.   

O dirigente do K-rona Gold disse também que há uma rivalidade natural entre motoristas de Uber e do K-rona Gold, visto que a empresa que representa propõe lucro muito maior do que a concorrente.

Prefeitura

A Prefeitura de Campo Grande foi questionada acerca da gravação, mas disse apenas que a Agetran está fazendo um levantamento de todos os aplicativos que prestam serviço de carona paga em Campo Grande.

Ouça o áudio da orientação do agente de trânsito: