A tarefa de percorrer uma região por semana não é fácil para os agentes de combate a endemias da prefeitura de Campo Grande, que denunciam a falta de condições de trabalho. Um agente de 29 anos, que optou por não se identificar por medo de represálias, destaca que o grupo tem que fazer marmita em casa para se alimentar no dia de trabalho, mas não existe nenhum local apropriado para impedir que o alimento estrague.
“Não tem geladeira, imagina como fica a nossa situação em um clima quente como o nosso. Se azedar, temos que comer do jeito que está ou comprar comida. Não temos um local para lavar as mãos, não temos um local para almoçar, como percorremos uma região por semana, não existe uma sede, nem nada”, diz o rapaz.
O agente destaca que conta com a cooperação de moradores para fazer necessidades fisiológicas. “Pedimos aos moradores para usar o banheiro, contamos com a população porque com a prefeitura não tem como. Percorremos o bairro Los Angeles, Taquarussu e Tiradentes. Também usamos praças e pé de árvores, almoçamos debaixo de uma árvore quando encontramos uma sombra. No Tiradentes mesmo, usamos o centro comunitário que está abandonado, usamos o mesmo banheiro, tanto os homens como as mulheres. Tem até uma moça grávida trabalhando com a gente nessas condições”.
Segundo o agente, o grupo está trabalhando com materiais vencidos. “As agulhas são vencidas, os repelentes que eles dão para a gente se proteger do sol está com validade vendida desde abril deste ano. É complicada a nossa situação. Falta equipamento de EPI – Equipamento de Proteção Individual, que fornecemos para os moradores quando o cachorro é bravo para conter o animal, nem isso temos”.
O trabalhador afirma ainda que a carga horária foi estendida após denúncia da população. “Alguém fez uma denúncia porque trabalhávamos das 7 horas até às 13 horas e a nossa chefe mudou o horário. Não me importo de cumprir o novo horário do dia todo, só queria que eles dessem condições de trabalho para a categoria. Precisamos de condições de trabalho, não reclamo de trabalhar, reclamo de não ter condições para isso”.
Conforme o denunciante, existe uma contribuição para agentes que batem a meta, desde que não tenha apresentado atestado médico no mês. “Quem fica doente não consegue a contribuição. Não estamos mais nem doando sangue por isso, porque não pode ter atestado, então deixamos de contribuir com quem precisa. Um amigo meu foi mordido no nariz por um cachorro, ficou dois dias de atestado, bateu a meta do mês, mas mesmo assim não pegou o benefício. Queremos trabalhar com dignidade”.
Prefeitura
O TopMídiaNews entrou em contato com a prefeitura, que informou que os agentes contam com pontos de apoio. "Os agentes de endemias em questão atuam em ações do Centro de Controle de Zoonozes (CCZ) de forma itinerante, desta forma eles contam com pontos de apoio onde é feita a retirada e reposição de materiais utilizados durante as atividades. Quanto a queixa em relação a carga horária, o concurso para investidura no cargo prevê uma carga horária de 08 horas diárias, sendo 2 horas para almoço. Portanto, não houve nenhuma alteração quanto a carga horária destes servidores e sim tão somente uma exigência para que a jornada de trabalho prevista em lei seja cumprida. Os agentes recebem mensalmente um vale alimentação de$294 que pode ser utilizado em restaurantes, no entanto o servidor opta por preparar a refeição em casa, mesmo sabendo que tais pontos de apoio, em sua maioria, não possuem estrutura de refeitório. Em relação ao deslocamento, o servidor tem direito a dois passes de ônibus por dia, mas ele pode solicitar junto ao Departamento de Recursos Humanos o aumento na quantidade, de forma a propiciar que ele se desloque até a sua residência no período mencionado de 2 horas de almoço".