Uma descarga de adrenalina preenche meu corpo. Não consigo evitar um sorriso. Meu peito aquece com a lembrança da aventura que acabei de concluir. É assim que me sinto logo após finalizar 'Filhos de Sangue e Osso', escrito por Tomi Adeyemi e publicado pela editora Rocco.
São pouco mais de 500 páginas que devorei em três dias, praticamente um milagre considerando minha rotina atual. É o poder de um livro bem escrito, com personagens envolventes e uma trama bem amarrada.
Nesta distopia, acompanhamos Zelie Adebola, uma divinal que teve a mãe massacrada por um governo que se recusa a conviver com a diferença e tem medo dos poderes dos majis, homens e mulheres abençoados pelos deuses iorubá com dons especiais, desde o controle do fogo e do vento até a cura e domínio sobre a morte.
Estadunidense de origem nigeriana, a autora Tomi se inspirou na mitologia, religião e cultura africana para escrever essa trilogia. Assim como em Percy Jackson e Os Olimpianos (Rick Riordan) ou na trilogia Grisha (Leigh Bardugo), a distribuição de poderes mágicos associado a deuses é um ponto comum no gênero literário, mas o desenvolvimento das personagens é rico e a história envolvente.
No quesito criação de novo mundo fantástico, Tomi Adeyemi, infelizmente, ousa pouquíssimo e usa nomes familiares, que não necessitam de tanta descrição para a boa compreensão. Também não nego que algumas situações tensas da história poderiam ser trabalhadas de outras maneiras para não parecer apenas burrice das personagens, mas nada que tire o brilho do livro em geral.
Interessante que a autora conseguiu uma bolsa para estudar cultura africana em Salvador, na Bahia, onde se inspirou a criar um universo de fantasia onde a magia dos orixás corre o risco de ser extinta. O livro também é uma grande alegoria contra o racismo e, especialmente, à intolerância ao diferente, seja pelo tom de pele ou pela cultura e religião.
Sem me prolongar para não dar spoilers, posso dizer que 'Filhos de Sangue e Osso' despertou em mim um orgulho e uma alegria semelhante à primeira vez que assisti Pantera Negra. Agora não vejo a hora de devorar os livros seguintes dessa história!