Sem função para o trabalho ou para a produção diária tão cobrada das pessoas, o videogame é um item de lazer que deu certo para o mercado. Considerado brinquedo de criança, até que a primeira geração de gamers crescesse, os jogos eletrônicos ganharam um público aficionado e exigente. Uma linha de produção tão rotativa só podia resultar em uma vasta opção de modelos em um curto espaço de tempo. Foi diante desta realidade, que o jornalista Cleidson Lima, 42 anos, acabou adquirindo também a função de colecionador e agora de curador de museu.
Natural de Rio Branco, no Acre, Cleidson afirma que a coleção de 200 consoles e mais de 6 mil jogos surgiu apenas na vida adulta, já em Campo Grande. "A coleção começou em 2006, quando eu já tinha umas cinco peças. Como os amigos viam que eu gostava me davam os consoles ao invés de se desfazerem deles".
Apesar de ter demorado para se intensificar, foi na infância que começou o interesse do jornalista pelos jogos. Nascido em 1972, ano em que foi fabricado o Magnavox Odyssey, primeiro videogame do mundo, Cleidson demorou um pouco até ter condições de adquirir seu próprio jogo eletrônico. "Meus pais puderam comprar apenas quando eu tinha 13 anos de idade, foi um Atari. Mas já havia tido contato em 1979 com um Telejogo", relembra.
Campo Grande Game Show no shopping Bosque dos Ipês. (Foto: assessoria)
Para a coleção partir de hobby para profissão, foi necessário o empurrãozinho da esposa de Cleidson, Janaína Ivo. Ameaçando jogar os consoles fora caso não lhe fossem dado utilidade, a jornalista sugeriu que a coleção se transformasse em um museu para ser mostrado à população. Nesta época, a coleção já não contava apenas com presente de amigos, mas também com peças raras compradas nos Estados Unidos, Japão e Europa.
Desde então, Cleidson deu início aos tramites para profissionalização da brincadeira. Ao procurar o registrar a coleção no Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), ele se deparou com a informação que seu acervo era o primeiro do gênero a ser mapeado no Brasil. Em 2011, a coleção foi apresentando a um público de 450 mil pessoas em exposição que ocorreu durante 15 dias, em Campo Grande. O sucesso acabou levando a novas edições da mostra que em fevereiro deste ano reuniu mais de 160 mil pessoas no shopping Bosque dos Ipês, com apoio da PlayStation Brasil, Intel, Ubisoft, Oi e Kingston.
Do Pantanal para o Brasil
A ideia do Museu do Videogame deu tão certo que atraiu patrocínios e chamou a atenção do Ministério da Cultura e até da apresentadora Fátima Bernardes. Com características que envolvem história, arte, cultura e diversão, o museu concorrerá ao prêmio Brasil Criativo, que visa apoiar projetos da Economia Criativa Brasileira.
O última exposição em Campo Grande reuniu 160 mil pessoas. (Foto: assessoria)
Com itens raros, como o Atari Pong (primeiro console doméstico da Atari), de 1976 e Fairchild Channel F, de 1976 (primeiro console a usar cartuchos de jogos), museu também será tema de reportagem exibida na próxima sexta-feira (10), no programa 'Encontro', apresentando pela jornalista Fátima Bernardes. O programa será ao vivo e algumas peças serão levadas diretamente ao Projac para serem apresentadas aos expectadores.
Itinerante, o museu acabou recebendo um grande número de pedidos e toda a coleção ganhará o país por meio de parcerias e patrocínios de shoppings, instituições e empresas privadas. Já estão previstas exposições em Fortaleza, Belém, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Salvador, entre outras. Esses apoios possibilitarão que as exposições sejam gratuitas para o público em geral.
De acordo com Cleidson, por meio das exposições os visitantes encontrarão mais de 200 consoles de todas as gerações nos últimos 42 anos. Entre as relíquias estão o primeiro console fabricado no mundo Telejogo Philco Ford, de 1977 (o primeiro videogame fabricado no Brasil); o Nintendo Virtual Boy, de 1995 (primeiro a rodar jogos 3D); o Vectrex, de 1982 (console com jogos vetoriais que já vinha com monitor); o Microvision (primeiro portátil a usar cartucho), de 1979 e o R.O.B (robozinho lançado juntamente com o Nintendo 8 bits, em 1985).
Além disto os visitantes também podem jogar em alguns videogames que fizeram história, tais como o Telejogo Philco-Ford (1977), Atari 2600 (1976), Nintendinho 8 bits (1985), Master System (1986), Mega Drive (1988), Super Nintendo (1990), Nintendo 64 (1996), Game Cube (2001), Sega Dreamcast (1998), Xbox (2001), Playstation 1 (1994), entre outros. "As exposições abrangem de crianças a pessoas de 40 e 50 anos", revela.