Cristiane Batista, hoje com 50 anos, é uma mulher resiliente que construiu uma carreira sólida e tem verdadeira paixão pela podologia, mas não sem enfrentar obstáculos imensos. Sua trajetória é marcada pela luta para estudar e trabalhar na área de sua escolha, superando adversidades de uma infância difícil, dificuldades financeiras e até o preconceito de sua própria classe profissional.
Desde o início dos anos 90, ela começou a trabalhar como manicure e pedicure de forma autodidata, aprendendo intuitivamente. “Iniciei no salão de uma vizinha, fiz o meu primeiro atendimento e pedi uma oportunidade em um salão mais elitizado. Fiz um teste e comecei a trabalhar em salões”, relembra Cristiane. No entanto, sua paixão pela área de beleza e cuidados com as mãos e os pés nunca a abandonou, mesmo quando se aventurou por outros segmentos, como maquiagem, sobrancelhas e cabelos.
Durante a pandemia de 2020, quando as festas e eventos pararam, o mercado de beleza sofreu um grande baque. Para Cristiane, que havia se aprofundado em cursos de aperfeiçoamento e procedimentos, como o tratamento de calosidades, a manicure e pedicure se tornaram sua única fonte de renda. Foi nesse momento que ela descobriu a podologia, e com isso, a necessidade de se formar na área. Iniciou a graduação em Podologia e passou a oferecer serviços especializados, como desbaste nos pés, tratamento de unhas com micose e aplicação de órteses.
Podocure
A ideia de criar o nome "Podocure" surgiu para dar um nome à sua nova atividade, unindo o significado da palavra "Podo" (que remete a pé, em grego) e "Cure" (curar, tratar). Porém, esse passo inovador gerou polêmicas. Cristiane conta que, ao divulgar seu nome, enfrentou ataques da própria classe da podologia. “Me assediaram moralmente, disseram que eu estava criando uma profissão de forma irresponsável e me denunciaram ao Ministério Público por exercício irregular da profissão”, lembra.
Apesar da pressão, Cristiane não se deixou abater. Em vez de desistir, ela decidiu pesquisar seus direitos e descobrir o que a legislação dizia sobre a profissão. Foi quando encontrou o CBO 5161-40, que descreve a pedicure como responsável por tarefas como desencravar unhas e hidratar pés, e o artigo 5º da Constituição, que garante a liberdade de exercer qualquer profissão, respeitadas as qualificações estabelecidas pela lei. “Entendi que, na verdade, estava criando algo novo, não uma profissão, mas uma nova abordagem dentro da pedicure. Fui impulsionada a estudar mais”, conta.
Ao longo de sua jornada, Cristiane também percebeu que a regulamentação da podologia estava em andamento, mas com um foco específico: a alegação de que manicures poderiam causar amputações em membros inferiores. Para ela, isso é um erro, pois a questão está na falta de instrução das profissionais, não no exercício da profissão em si. Ela acredita que é necessário formar manicures e pedicures em práticas como a esterilização correta dos materiais e identificar sinais de doenças como o pé diabético. “É necessário formar as manicures em vez de querer afastá-las da profissão, pois elas são muitas vezes as únicas que têm contato direto com as pessoas em locais afastados dos grandes centros", diz.
Passando o conhecimento adiante
E Cristiane não parou por aí. Ao longo de sua trajetória, se dedicou a ministrar cursos de Pedicure Avançada, com mais de 2 mil alunas formadas em seu curso online e dezenas no presencial. Ela também tem se dedicado à inclusão social e ao apoio à comunidade. Criou o projeto "Passos de Amor", em Bonito, que oferecia atendimentos gratuitos a pessoas carentes da cidade. "Eu atendia um rapaz que, após um acidente, ficou cadeirante. Ele não tinha condições de pagar pelos serviços, mas eu o atendi com todo o carinho. Essas são as histórias que me motivam", compartilha.
Com o desejo de fazer mais, ela planeja levar seus conhecimentos a um número maior de pessoas, e também sonha com a criação de um material educativo-orientativo destinado a manicures e pedicures de todo o país, para que possam aprender sobre cuidados de higiene e identificar sinais de doenças, além de receberem instrução sobre a própria vacinação contra tétano, principalmente, já que as profissionais trabalham com material perfurocortante. "Com esse material, poderíamos ter um serviço de saúde pública para a população, mudando vidas e cuidando da saúde de muitos", afirma com esperança.
Recomeçando
Cristiane, que aos 35 anos recomeçou sua educação, após uma infância marcada por dificuldades e abuso, não apenas conquistou a graduação em Podologia aos 45 anos, mas agora planeja seguir seus estudos para Biomedicina em 2025. Ela ressalta que seu maior desafio sempre foi não desistir, seja da educação ou da profissão que escolheu. “Na década de 80, era comum que meninas fossem criadas para trabalhar como domésticas. Eu fui dada, mas sempre fui devolvida. Passei por muitos abusos e dificuldades, mas encontrei forças para seguir em frente”, conta, emocionada.
A história de Cristiane é um exemplo de perseverança e de como uma mulher, mesmo diante de inúmeros obstáculos, pode transformar sua realidade e a de muitas outras ao seu redor. Ela não apenas venceu as dificuldades da vida, mas agora luta por mais valorização e instrução para os profissionais da área de cuidados com os pés e as mãos, sem perder sua essência de acolhimento e amor ao próximo.
Serviço:
Para mais informações sobre cursos e agendamentos, basta entrar em contato pelo número (67) 99257-7212.
O espaço de Cristiane fica na Rua 25 de dezembro 1092 sala 10, entre Abrão Júlio Rahe e Avenida Mato Grosso, em Campo Grande.
Para acompanhar o trabalho de Cristiane nas redes sociais procure por @cristianebatistapodocure no TikTok, Instagram, Facebook e YouTube.
Confira nosso bate-papo com a podocure: