As buzinas não param de soar quando Paulo César da Silva Baptista, o 'Paulo do Radinho', passa pelo canteiro central da avenida Afonso Pena. A figura excêntrica e alegre é capaz de botar um sorriso na cara de quem passa pelo centro, seja na hora do rush ou nas horas já tranqüilas de fim de noite. Há 18 anos, quando Paulo começou a dançar pelas ruas de Campo Grande, ninguém seria capaz de dizer que um dos maiores ídolos da cidade não seria cantor ou artista de cinema, mas um funcionário público amante das ruas.
E foi por conta de mazela digna de grande cidade que Paulo começou a dançar por aí. No dia 25 de dezembro de 1996, ele chorava as magoas de passar o dia de Natal longe da família. "Estava abatido de mais neste dia e saí com meu radinho por aí, quando ofereceram na rádio uma música para mim", relembra. Quando os primeiros acordes de "Para Dizer Adeus" dos Titãs soaram as lágrimas já estavam escorrendo dos olhos de Paulo, mas mesmo assim ele começou a dançar.
(Foto: Geovanni Gomes)
O misto de tristeza e alegria confundiu quem por ali estava. "Os meninos de rua e prostitutas começaram a dançar comigo achando que estava fazendo um homenagem para eles". Ao perceberem que Paulo chorava, o consolaram e ele prometeu que faria a dança até a dor passar. A fase daquela tristeza durou 90 dias, mas o funcionário resolveu continuar levando alegria para aqueles que por ali passavam e desde então não parou mais.
Nesta quarta-feira (20), Paulo completou 55 anos de idade e ao que parece a profissão paralela serviu como terapia. Pois, aparentemente, sorri mais do que chora. Segundo ele, não é apenas a música que faz sua felicidade, mas a cidade. Natural do Rio Grande do Sul, ele passou por Bela Vista, até chegar em terras campo-grandenses, onde vive desde os 14 anos de idade. Mas todo amor, não anula a crítica. "A cidade cresceu muito, mas o centro, onde circulo e moro, está abandonado. Parece que a cidade 'encaretou. Antigamente tinha bares e até boate gay aqui na Afonso Pena", afirma com bom humor.
(Foto: Geovanni Gomes)
O repertório que embala a vida nas ruas da capital sul-mato-grossense continua diverso e conta até com algum pop internacional para agradar a garotada. Mas as preferências particularidades de Paulo são bem requintadas. "Gosto de ouvir MPB, principalmente rock. Mas Gonzaguinha e Chico Buarque são os meus preferidos", afirma.